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Atletismo: Carlos Sá prepara a maratona mais dura do mundo

Vários portugueses aventuraram-se sobre rodas pelas inóspitas dunas e pedras do Saara, mas só Carlos Sá, de mochila às costas, o conseguiu a pé, chegando ao “top ten” na Maratona das Areias: 250 quilómetros em 24 horas.

Atletismo: Carlos Sá prepara a maratona mais dura do mundo

O oitavo lugar na edição de 2011 da mais dura maratona do mundo, “Marathon des Sables” (terceiro entre os não africanos), fê-lo confiar ainda mais nas suas capacidades físicas, apesar da normal perda de oito a sete quilos na prova, mas sobretudo nas psicológicas, que definiu, em entrevista à Agência Lusa, como as essenciais.

«Vou voltar em abril, testar mais uma vez os meus limites. Consiste em correr 250 quilómetros em autonomia total, muito mais que uma prova, um verdadeiro teste aos limites do ser humano, em seis etapas, sete dias consecutivos», explicou o atleta, que já tinha uma ocupação profissional radical: «Fazia trabalhos verticais, permanentemente pendurado em fachadas e antenas, a fazer remodelações e limpezas».

Com 38 anos e dedicado ao atletismo desde novo, enveredou pelo montanhismo e a orientação. Treinos de 30 quilómetros por dia, «à média de 200 por semana, 800 por mês», renderam a vitória no Grande Raide dos Pirenéus em 2010 (160 quilómetros) e o quinto posto da prova do Monte Branco em 2011 (170 quilómetros), além de patrocínios para se dedicar à organização de eventos do género.

«Fisicamente não se recupera. Psicologicamente temos de ser muito fortes, é um passo atrás do outro, é uma luta contra nós próprios. Por isso é que é um verdadeiro desafio», descreve, referindo-se à ultramaratona do deserto, na qual a organização fornece 12 litros de água por dia aos participantes, que têm de carregar toda a «alimentação, roupa quente e um bom saco cama para fazer frente às temperaturas negativas durante a noite».

«À partida, no ano passado, comecei com 9,5 quilos (de carga), mais a água que nos é dada, cerca de litro e meio de 12 em 12 quilómetros. É muito peso, mas mesmo assim consegui cumprir os 250 quilómetros em 24 horas, uma média de mais de 10 km/h», contou, destacando que 25 por cento dos abandonos acontecem por outros motivos... noturnos, as “visitas” inesperadas às sapatilhas e aos sacos cama.

Escorpiões, aranhas e cobras obrigam os atletas a carregar também um foguete de sinalização para alertar os helicópteros que seguem a corrida para a necessidade de evacuação e uma seringa para extrair os venenos, em caso de mordedura. De dia, a confiança é depositada na bússola para seguir o livro do percurso.

«[Vontade de desistir] É um facto do qual nos temos de abstrair e concentrar-nos em coisas positivas. No ano passado, durante uma fase muito má, por volta dos 40 quilómetros da etapa de 84, com um pico de temperatura muito alto, estava completamente desidratado e, de repente, passou uma caravana de camelos e apareceu um miúdo a pedir água. Não resisti e dei-lhe a pouca água que tinha, mesmo sabendo que iria comprometer o meu percurso», lembrou.

Para Carlos Sá o episódio relativizou as suas dificuldades físicas, porque o pôs a pensar: «Se eu sofro, esta gente sofre muito mais, se acho pouco 12 litros de água para mim, aquela criança, provavelmente, não tem um litro de água potável por dia».

O atleta de Barcelos, cujo orçamento para participar na próxima edição do evento ronda os 5.000 euros, considerou que são as condições naturais dos povos indígenas, «quer jordanos, quer marroquinos», que os tornam «praticamente imbatíveis», pois «criam uma resistência tal desde que nascem que, depois, em idades adultas, quando bem treinados, os fazem dominar esta prova por completo».

«É completamente imprevisível, com todas estas condições, haver qualquer tipo de prognóstico. Chegar ao fim, regressar a casa bem e com o espírito de que demos o nosso máximo e nos superámos. Agora classificações...já numa maratona de estrada é quase impossível prognósticos, nesta muito menos», afirmou, sobre a 27.ª edição da Maratona das Areias, entre 06 e 16 de abril, em Marrocos.

Como lema de vida, Carlos Sá acredita que «não há limites e quando atingimos um horizonte, outro se abre», desejando tornar-se «o atleta mais eclético na história do ultramaratonismo português».

«Gosto de fazer coisas novas, inovar. Já estou também a planear entrar na maior maratona de estrada que existe, que liga Sparta a Atenas, são 256 quilómetros. Por que não? Se eu consigo estar entre os melhores do Mundo na montanha e no deserto, na estrada...»

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