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FC Porto: Um domingo qualquer

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Um domingo qualquer
Futebol Clube Famalicão

Se tudo está bem quando acaba bem, também há o sentido contrário. Quando as coisas correm mal, a canalização do acaso também faz das suas e o cano roto surge de onde menos se espera. É neste hiato entre o espetacular (Arsenal) e o péssimo que o FC Porto se situa, sendo que os últimos tempos tem pendido para a segunda opção.

Na realidade, há situações que não ajudam. Pepe já é, de facto, suficientemente crescidinho para não se colocar a jeito de uma expulsão diante do Vitória que, mais do que o vermelho em si, fez ruir todo o edifício da serenidade. Do cronómetro e da sofreguidão. Se é plausível pensar-se que, com a devida tranquilidade, o Estoril até poderia ter sido transformado em presa fácil, convém aos mais experientes assumirem o papel de velhos da montanha e mostrarem que o glorioso caminho percorrido se construiu com paciência a rodos e jogos desmantelados no último terço dos noventa minutos. E Pepe tem 41 anos e 3 ligas dos Campeões, que falam quase sem falar. Basta estar em campo.

Nestas alturas, a melhor solução é mesmo pensar-se como “O Domingo Qualquer”. De Oliver Stone. O Dragão ouve as palavras de Al Pacino e reflete. Só há dois caminhos: continuar impávido e sereno a levar com o infortúnio todo em cima; ou então, passo a passo, voltar aos tempos áureos. Como se faz? Pegando no que está bem e exponenciando-o em conformidade. E o que está bem é um onze-base extremamente jovem, irreverente, que tem maturidade tática para enfrentar o líder da liga inglesa. E coloca-lo em sentido.

E o que está mal reside em vários fatores: em primeiro lugar uma temporada marcada por desleixos fatais, oriundos de contextos externos (ato eleitoral nas contas) bem como de uma segunda linha defensiva que ainda não tem a mesma capacidade de resposta. Porque, convenhamos, há um FC Porto de cimento quando é constituído por João Mário, Pepe, Otávio e Wendell e um Dragão menos sólido quando um destes elementos (junte-se a transição defensiva de Alan Varela) falha a hora de almoço. É argumentável que não há linha defensiva que se mantenha inalterável e que a troca de peças deve ser salvaguardada. Mas tal leva tempo, e ainda mais tempo leva quando se constata que a diferença de valor individual é ainda substancial entre uns e outros. Sobretudo do ponto de vista defensivo. É por aí.

Diante do Famalicão, ambos os golos sofridos foram padronizados. Cruzamentos provenientes do lado esquerdo, com má cobertura do corredor e, claro está, também um mérito brutal na forma como Jhonder Cádiz atacou a bola: então no tento inaugural, não é qualquer avançado que surge com aquela determinação no meio dos centrais, no encalço de uma zona onde as falhas dos avançados são toleráveis. Seja como for, e rebobinando, a perda de bola de Jorge Sanchez originou a transição ofensiva, e o lateral mexicano também não ficou bem na fotografia no lance do segundo golo: falta de cobertura da zona central, com Cadiz novamente a fazer das suas.

Se as culpas não podem ser apenas imputadas a Jorge Sanchez, há também outro fator essencial: a falta de carburação da zona central, assente num Grujic que não tem a mesma destreza de Varela na altura de definir ou construir. O que origina um jogo mais flanqueado, mais contrariável, com outra variável a sobressair. Porque Taremi – articulação com Evanilson e alimentação precioso do jogo entrelinhas – faz uma falta tremenda. Na verdade, para além dos necessários retoques no setor defensivo, o FC Porto carece, ainda que de forma não prioritária, de um jogador que acrescente inteligência na linha ofensiva e que permita a rápida definição e interpretação de dupla ofensiva, essencial quando é fundamental acrescentar-se a tónica da imprevisibilidade ao jogo e ao seu desfecho.

Reter o contexto, aceitando-o e nunca o desvirtuando por causa deste ou daquele, ou por causa de qualquer ato eleitoral. Indo por partes: manter o 3º lugar independentemente de tudo. Se não há objetivos imediatos de título, pelo menos que existam objetivos relacionados com a proximidade futura de títulos, com o exemplo Sporting (no ano passado foi 4º) a sobressair como real lição a reter. E a implementar. Até porque há uma Taça de Portugal no horizonte e o FC Porto tem tudo a ganhar se, pelo menos, terminar uma das temporadas mais instáveis da sua história com um triunfo. Há sempre vida para lá de 2024.

Depois, mais do que se saber quem ganha, que as eleições cheguem e rápido. É certo que os atos eleitorais concorridos são sinal de vitalidade democrática, mas no caso do FC Porto a reflexão é outra: no fundo está em causa a reeleição ou não de um Presidente com mais de 40 anos de “reinado”, sendo que mesmo a dúvida acarreta a devida intranquilidade. Sobretudo porque o FC Porto, nem nenhum clube grande, pode viver na intermitência do ser ou não ser. Do quem vem ou do quem pode sair ou ficar. Acima de tudo, o pós-eleições trará uma resposta e a eliminação repentina da dita dúvida. E só se desenvolve quem tem certezas. Ou quem analisa o “Domingo Qualquer” e conclui que, de facto, a única solução é agarrar cada centímetro com unhas e com dentes. Para que a ribalta fique ao virar da esquina da temporada.

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