loading

FC Porto: O lapso de Picasso

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: O lapso de Picasso
Facebook Arsenal

Era uma vez um genial pintor chamado Picasso, que pintou duas obras verdadeiramente perfeitas e deslumbrantes. Esqueceu-se foi de as assinar. Veio um inglês maroto que as levou e fez dos quadros sua pertença. Fim.

Das artes plásticas ao futebol, foi esta a “fantástico-tristonha” narrativa do FC Porto na Liga dos Campeões, depois de se ter batido de forma titânica diante do Arsenal que é líder da liga inglesa. Missão impossível ou para lá disso. Infelicidade no sorteio contrariada por um poderoso coletivo, que feriu os arsenalistas nos pontos certos: bloqueio dos corredores através de posicionamentos irrepreensíveis, sendo que Wendell e Galeno realizaram imperiais exibições do ponto de vista defensivo; condicionamento da zona de ação de Odegaard – posicionamentos estratégicos de Alan Varela e Nico Gonzalez a criarem um casulo impenetrável. E controlo maciço das zonas de interferência dos laterais ingleses através de pressão efetiva e exercida nos momentos certos. Isto para lá de assertividade nos duelos físicos. Receita perfeita.

O FC Porto fez tudo o que devia ter feito. E até mais alguma coisa. Naturalmente que, diante de equipas tão poderosas, qualquer redoma é penetrável quer pela mais-valia dos jogadores quer pelo somatório de migalhas de erro que, não sendo censuráveis, fazem parte da condição humana: a perfeição não existe. O quadro que os dragões escreveram no Emirates não esqueceu a componente ofensiva: com os ingleses a pressionarem muito alto logo no início de jogo, a busca pela profundidade fez-se de forma frequente, regular, mas não compulsiva. E, através das características deste jogo, percebe-se o quão fundamental é possuir um central esquerdino: decisivo Otávio nos lançamentos em profundidade em busca de Galeno que, mais do que o êxito em si da manobra, provocaram o natural recuo dos ingleses para zonas menos propensas ao perigo imediato, com os alas a terem também de ajudar no processo defensivo e, naturalmente, a ficarem remetidos a algum desgaste. Por consequência, importante também o começo das ações pelo lado esquerdo com o atrevido intuito de derivar o Arsenal para o seu lado direito, destapando crateras do lado contrário para Francisco Conceição e João Mário explorarem no um contra um. E foi por isso que Otávio se manteve em campo mesmo apresentando dificuldades visíveis quer no final do tempo regulamentar quer no prolongamento. Porque era fundamental manter-se essa via aberta. Vida.

Ao centro, mais uma vez Nico Gonzalez a protagonizar uma majestosa exibição. À robustez física alia capacidade de ligação entre setores (determinante perante os tubarões) e, acima de tudo, aquelas movimentações sem bola que fazem com que a primeira fase de construção se faça de forma mais fluida. E o FC Porto também se pode gabar de ter um guarda-redes que, nas frias contas do jogo, se assume como mais um elemento da primeira fase de construção. Sem qualquer tipo de receio, foi ver os jogadores portistas a atrasarem vezes sem conta para o seu guarda-redes, para que este acalmasse os ânimos e reiniciasse o processo de construção com a tranquilidade possível dentro do tal espectro de um Arsenal que é das melhores equipas da Europa neste momento. Diogo Costa, sem ter estado mal e muito pelo contrário, podia ter estado no carreto mais acima: na distribuição e, sobretudo nas grandes penalidades, faltou aquela gota extra de poção mágica para fazer a diferença.

Que nesta narrativa se exacerbe a atenção aos detalhes e a importância dos mesmos na conquista de objetivos superiores, cuja tolerância ao erro é absolutamente microscópica. Liga dos Campeões. O golo do Arsenal resultou de uma pequena imperfeição: João Mário devia ter os olhos postos em Trossard – que ia receber entrelinhas e no seu espaço de intervenção – e não em Odegaard, que tinha a bola e estava à espera da desatenção fatal. Porque a este nível as falhas exponenciam-se e passam a ter corpos de adulto: tal situação, a nível interno, dificilmente teria desaguado em golo. A atenuante assenta a João Mário na medida em que é jovem, ainda está em desenvolvimento e, sobretudo, não está exposto a situações do género com muita frequência.

E quem diz João Mário diz toda uma excelente equipa – sobretudo do meio-campo para a frente – que pauta pela juventude e por reais perspetivas de desenvolvimento. Mais do que entrar em parafuso por causa de uma liga interna mal conseguida por demérito próprio (também necessária reconstrução), o FC Porto está num processo evolutivo que não pode ser desvirtuado por questão alguma. No fundo, estabelecer como prioridade a manutenção de um esqueleto que é altamente competitivo e que, se for retocado quer do ponto de vista defensivo quer sobretudo em termos de definição no último terço, pode adquirir uma capacidade competitiva significativa a nível internacional. E, convém não esquecer, para o ano há Mundial de Clubes. Ainda por cima quando é a primeira vez que tal acontece nos novos moldes. Holofotes na potência máxima.

Fazer um pouco como o Sporting fez na temporada passada. Se bem que nesta temporada os objetivos ainda existam – sobretudo Taça de Portugal – os dragões têm tudo a ganhar se utilizarem o que falta da presente temporada como tubo de ensaio para o que segue. Com Sérgio Conceição ou não ao leme, mas, sobretudo, com uma estrutura que devidamente congelada se pode transformar em fortaleza inexpugnável. A tal fortaleza do dragão europeu.

Confira aqui tudo sobre a competição.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Quem será o próximo presidente FC Porto?