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Formação feminina do ‘Fofó’ dribla pandemia com treinos via Zoom

A covid-19 suspendeu as competições de formação no futebol feminino e o agravamento da pandemia em Portugal no mês de janeiro levou mesmo à suspensão dos treinos, mas no Futebol Benfica dribla-se a paragem com treinos por videoconferência.

Formação feminina do ‘Fofó’ dribla pandemia com treinos via Zoom

O clube lisboeta, popularmente conhecido por ‘Fofó’, conta com mais de uma centena de jovens inscritas nas cinco equipas femininas do futebol de formação, além de duas equipas seniores – as únicas autorizadas a competir atualmente. Para o presidente, Domingos Estanislau, a pandemia “atinge também a saúde dos clubes”, mas lembra que “o grande desafio de todos é a covid-19” e defende a interrupção da atividade desportiva na formação.

“Para os miúdos e para os pais isto não é nada bom, mas não podemos abrir o futebol de formação. Estou de acordo que o Governo não autorize a abertura do futebol de formação, porque nem todos os clubes têm condições. A formação deve estar em ‘stand-by’, é mau para a evolução dos miúdos, só que acima de tudo está a saúde deles. Os miúdos estão bem em casa”, afirma à Lusa o líder do ‘Fofó’, que comanda os destinos do clube desde 1987.

Entre os escalões afetados pela paragem está a equipa de sub-15, comandada por Rita Barreto, que, aos 23 anos, pertence também ao plantel da equipa principal do clube. Na pele de treinadora, foi obrigada a suspender os treinos presenciais em janeiro e a reinventar o trabalho à distância.

“O facto de não haver competição neste momento altera a forma como veem o treino e a forma como estão motivadas, porque sentem falta disso. O que tenho feito são treinos pela plataforma Zoom com elas duas vezes por semana”, explica, assumindo as limitações desta alternativa: “Há certos exercícios que não podemos praticar e que nem quero que façam, porque ainda podem partir algo em casa”.

Sem o trabalho coletivo e mesmo com exercícios com bola muito reduzidos, Rita Barreto defende a importância de “manter o espírito positivo” e de encontrar dinâmicas de grupo para contrariar a ansiedade que se começa a instalar em algumas jogadoras, perante a incerteza que a pandemia criou sobre o seu futuro e as suas ambições.

“Estão com muitas saudades dos treinos presenciais, de estar com a equipa e sentir as presenças umas das outras em treino, por Zoom há um distanciamento maior. Não é a mesma coisa estar a trabalhar online ou presencialmente”, confessa, numa visão partilhada pela jogadora Filipa Rodrigues: “Quando estamos a treinar em campo, temos uma intensidade diferente de quando treinamos em casa. Para quem gosta de futebol é difícil”.

Aos 14 anos, a ‘ala’ direito da equipa de sub-15 do ‘Fofó’ sonha construir uma carreira no futebol, modalidade na qual começou a dar os primeiros passos a sério em 2014. A pandemia veio ensombrar o presente desta jovem futebolista, que se apoia nos ‘treinos virtuais’ para vencer a preguiça propiciada pelo confinamento e para conseguir manter a condição física.

“Estes treinos são uma ajuda para nós para manter a forma e para termos motivação para continuar. Continuamos a ter uma rotina”, sublinha Filipa Rodrigues, para quem as “saudades” das colegas e da competição são mesmo o principal condicionalismo na atual realidade.

E se uma das consequências mais apontadas pela pandemia na sociedade é o seu efeito na saúde mental, esse aspeto “é ainda mais acentuado” entre os adolescentes, segundo a psicóloga Filipa Russo Teixeira, que trabalha no ‘Fofó’ e acompanha o percurso destas jovens futebolistas em tempos de “instabilidade profunda”.

“Vivem para competir e é isso que lhes dá verdadeiro prazer, porque é onde encontram os principais desafios. Estando privadas da competição, cabe aos treinadores e psicólogos transmitir-lhes as ferramentas para colmatarem esse espaço”, observa, realçando o peso de “trabalhar a frustração ou a sua própria autoestima para lidar com as adversidades”.

Reconhecendo que “uma modalidade coletiva não funciona sem o espírito de partilha entre os atletas”, Filipa Russo Teixeira admite que as maiores queixas que lhe chegam estão relacionadas com a ansiedade e a insegurança face ao futuro.

“Todas têm sonhos, objetivos que as atletas (e os treinadores) traçaram para uma época e que neste momento se vão adaptando a cada dia”, salienta, resumindo as principais dúvidas que passam pela mente das jovens: “’Será que vou conseguir estar preparada quando voltar a treinar e competir? Será que o treino que estou a fazer me chega? Será que vir ao treino vai prejudicar a minha família?’ Os jovens sabem disso tudo e no desporto têm a consciência de que podem estar a correr riscos, principalmente para os familiares. Cabe a nós ajudá-las a lidar com o stress da incerteza e motivá-las para continuarem a preparar-se”.

Por entre as muitas incertezas, Filipa Rodrigues mantém uma certeza em relação ao futuro. “Mesmo se a situação da covid-19 não melhorar, nunca é caso para desistir. Para quem gosta mesmo daquilo que faz, desistir não é opção”, reitera a sub-15 do ‘Fofó’, apesar do receio de um ocaso nesta geração, devido ao abandono da atividade desportiva por muitos jovens.

Rita Barreto garante não ter perdido nenhuma atleta desde o início da pandemia, mas admite que a ausência de competição pode levar a uma maior desmotivação e que “isso pode levar ao abandono desportivo”. Consequentemente, a técnica dos sub-15 (e sub-13) do clube lisboeta manifesta a expectativa do regresso da competição e da “normalidade” na próxima época.

“Estão todas a passar pelo mesmo, sentem falta da mesma coisa e de falar umas com as outras”, sustenta ainda a psicóloga Filipa Russo Teixeira, secundada por Domingos Estanislau, que acentua a “importância estratégica” dos clubes de proximidade no contexto atual: “Quando estamos em contacto permanente com os atletas, sentem-se apoiados e percebem que não estão isolados, que o futebol não acabou ali”.

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