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Onze do ano

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Onze do ano
Liga Portugal

Rúben Amorim não tem poderes de médium mas, logo no início, definiu um caminho a seguir que se revelou pleno e certeiro. Era pela frincha. Contra os canhões acelerar, acelerar. Se o Benfica não tinha no banco o poder suficiente para rentabilizar o plantel de que dispunha, também o FC Porto estava numa fase de reestruturação na sequência das saídas de Otávio e de Uribe. Isto para além de um ato eleitoral que acabou por colocar o ponto final no reinado de Pinto da Costa e que, naturalmente, acarretou uma turbulência natural.

Com um Braga a revelar-se interessantíssimo do meio-campo para a frente mas sem o mesmo arcaboiço à retaguarda, o Sporting não precisou de ler nos astros que a sua fortuna estava ao virar da esquina. Ainda por cima quando se tinha preparado para o melhor: com Gyokeres à cabeça e um Hjulmand que se revelou melhor do que a encomenda, os leões tiveram no guarda-redes o seu Calcanhar de Aquiles, que ainda assim nunca se mostrou catastrófico a ponto de fazer ruir um percurso quase imaculado. 90 pontos e Alvalade como verdadeiro caldeirão de vitórias. Pelo druida Rúben Amorim e a sua poção mágica de palavras. Falo logo existo.

Onze do ano

Diogo Costa (FC Porto): determinante sobretudo na primeira metade da temporada, quando foi o seguro de vida de um dragão em reconstrução e que teve no seu guarda-redes um farol de segurança para o objetivo mínimo do 3º lugar. Falhas pontuais – golo de Gyokeres em Alvalade e de Thomas Luciano em Barcelos – não mancham aquele que, mais uma vez, foi o melhor guarda-redes da liga. E um jogo de pés do melhor que há no mundo.

Aursnes (Benfica): foi o melhor lateral-direito do Benfica e, ao mesmo tempo, também o melhor lateral-esquerdo dos encarnados. Seria impossível não constar do onze da época, até porque apresenta uma qualidade de jogo indiscutível em qualquer zona do terreno. A questão é pertinente: quanto valeria Aursnes se não fosse o bombeiro de serviço? O dobro provavelmente.

Gonçalo Inácio (Sporting): aquele cirúrgico “avança e recua” com que constrói é uma verdadeira arma ofensiva, que capitaliza o Sporting para zonas mais adiantadas. É um médio só que ainda ninguém o avisou. No plano defensivo tem capacidade para atuar nas três zonas do eixo central sempre com rendimento muito fiável. Parte para o euro com reais perspetivas de titularidade.

Coates (Sporting): sim, as bolas nas suas costas valeram alguns períodos de aflição mas, ainda assim, nunca foi o ponto mais débil dos leões – esse sim residiu no guarda-redes. Sem a veia goleadora da primeira época como campeão, ainda assim acrescentou momentos decisivos: como aquele passe milimétrico para Nuno Santos, que conferiu o primeiro golo dos leões no Dragão.

Wendell (FC Porto): qualidade técnica de sobra, que praticamente o transforma num médio durante vários períodos do jogo. Aproveitou os jogos diante do Arsenal para testar a sua fiabilidade defensiva, e o exame foi ultrapassado com êxito. Veia goleadora e astúcia para aparecer em zonas de finalização valeram-lhe golos, que coroam uma época de plena afirmação – chamada à seleção incluída.

João Neves (Benfica): se o Benfica vacilou nos duelos do miolo? Sim, vacilou, e os jogos diante do Sporting foram o exemplo mais saliente. Mas não foi por culpa de João Neves. O seu espírito combativo, aliado à qualidade técnica e capacidade para ligar setores – aparecimento em zonas de finalização e auxílio na primeira fase de construção – fizeram dele o melhor jogador da temporada dos encarnados. Parte para o europeu em alta.

Nico Gonzalez (FC Porto): passou quase metade da temporada a ser lapidado por Sérgio Conceição, mas valeu a pena. O espanhol é mesmo craque. Então a gerar espaços na primeira fase de construção é do melhor que há, sendo que tal complementa um rol de atributos técnicos que o transforam num ativo a não perder. A pitada de cérebro que faltava ao meio-campo dos dragões foi uma contratação em cheio.

Pepê (FC Porto): tem uma qualidade técnica superlativa, que torna o jogo sempre mais fluido quando parte dos seus pés. Precisa de melhorar em termos de finalização mas, ainda assim, esta temporada representou uns passos em frente. É certo que aos dragões continua a faltar um pouco de qualidade entrelinhas, mas as ações de profundidade e de consolidação defensiva tiveram em Pepê um intérprete de luxo.

Francisco Conceição (FC Porto): a forma como o FC Porto canaliza o jogo para o seu lado esquerdo para, num ápice, o transportar para o flanco oposto diz bem da confiança em relação a um dos maiores desequilibradores da liga. Se na primeira parte da temporada os sinais foram evidentes – desempenhos nos sub-21 – o seu percurso foi pautado pela regularidade e mesmo por uma disponibilidade para a transição defensiva que coroam um salto para o planeta dos mais fiáveis.

Rafa (Benfica): o Benfica voltou a viver muito das suas acelerações e de uma característica única: a forma como conduz, em progressão e com a bola colada ao pé direito, é extremamente difícil de executar e, por conseguinte, de contrariar. Percebeu-se o fim de linha no Benfica e, em face da idade, tal é compreensível. Um dos melhores dos últimos anos em Portugal.

Gyokeres (Sporting): era Gyokeres ou não era mais ninguém. A forma como o Sporting se preparou para a chegada do sueco foi legítima e apropriada tendo em conta um elemento que é um portento físico, de aceleração, conquista de espaços e remate fácil. Falta-lhe um pouco de souplesse mas, afinal de contas, o que é que isso importa? 29 golos e uma chancela de desequilíbrio permanente. Craque. MVP da liga.

Treinador: Rúben Amorim (Sporting): é o primeiro a levantar a moral dos jogadores quando eles falham – Israel na Amadora – mas é também o primeiro a baixar-lhes a crista – Quaresma diante do FC Porto ou Geny Catamo frente ao Benfica. Mais do que uma visão de jogo que tem particularidades – como um lateral-direito esquerdino – o maior dos méritos foi nunca ter deixado de acreditar no seu modelo de jogo, mesmo ficando em 4º lugar. Na temporada passada. Coerência e recompensa justa.

Revelação: Cristo González (Arouca): rendimento muito interessante em todas as posições da linha avançada e ainda discernimento para pontificar como médio – decisivo na vitória diante do FC Porto. Com Jason e Mujica compôs um trio de luxo, e desta orquestra de luxo parece ser o elemento com capacidade para voar mais alto. Jogador muito acima da média.

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