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Sporting: Varandas caladas são um poema

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: Varandas caladas são um poema
Instagram Frederico Varandas

Não é para ganhar, é mesmo para rebentar com eles. Frederico Varandas não esteve com papas na língua e lançou o repto para a final da Taça de Portugal. Que o Presidente Varandas queira vencer, outra coisa não seria de esperar. Que queira motivar um conjunto de soldados que já estão por si motivados após a conquista do título? Altamente discutível, mas também não é por aí. A questão é outra. De impacto externo. Revitalizar o coração do inimigo. Ou, por outras palavras, não acionar o botão de raiva no covil do adversário. Nunca o fazer. E tudo ao contrário do que devia ter sido dito.

Ter energia – positiva, neutra ou negativa – é sempre bem mais importante do que ter um vácuo. Acontece que o FC Porto está com as baterias carregadas no máximo e tão somente à espera de um sinal orientador. Mandamos os nossos raios para dentro e ficamos ansiosos ou então descarregamos em cima de alguém? A resposta foi dada por Frederico Varandas. Segunda via. Se as paredes dos balneários do Olival vão estar ou não compostas com a frase do Presidente leonino nunca se vai saber. Mas, se assim estiverem, também ninguém vai estranhar. No fundo, Frederico Varandas, com as suas palavras, acabou por fazer um enorme favor a um dragão em polvorosa e em pulgas para culminar uma época atribulada com o levantamento da Taça de Portugal no Jamor. O dragão agradece.

Varandas caladas são um poema. Se uma figura pública tem naturalmente de ter todas as cautelas do mundo em relação ao que diz e à sua possível replicação, as preocupações aumentam quando o desafio está próximo. 26 de maio é já daqui por uns dias. Porque a questão é ainda mais pertinente: o que é que o Sporting ganhou com aquilo que Frederico Varandas disse? Rigorosamente nada. Se estamos com a motivação é alta e o adversário está turbulento, devemos deixar que a tranquilidade impere e que a iniciativa tenda para o lado do adversário. Que tem muito para se entreter: seja com o facto de Pinto da Costa estar no banco e Villas-Boas na tribuna ou, mais importante do que tudo, ainda não se saber quem estará a liderar a equipa na próxima temporada. Varandas faladas unem todos os possíveis cacos do Dragão e garantem a trupe unida num mesmo sentido de contrariar quem os quer rebentar. Quem os quer destruir. Por muitos.

Se foi uma atitude sobranceira ou arrogante? Talvez não por aí. Talvez imprudente ou insensata. Ou mesmo levada pelo entusiasmo do momento. Algo que um Presidente deve evitar a todo o custo. Se foi uma bicada ao rival? Não. A questão é outra: Varandas refere-se ao FC Porto, que sabe que é um clube grande e que, por isso, está habituado a disputar finais e a renascer das cinzas as vezes que forem necessárias. Porque é naturalmente compreensível que rebentar com o FC Porto (leia-se também Benfica) seja diferente de rebentar com outro qualquer. Agora, dizê-lo em público é dar uma abébia tremenda a um adversário desejoso de estímulos unificadores: nem Conceição, nem quem possa vir, nem Pinto da Costa, nem André Villas-Boas. Nem ninguém que veste de azul-e-branco quer ver o clube arrebentado e quem disser o contrário estará a cometer um “crime” de lesa-pátria que deve ser retaliado de forma una. Contra os canhões leoninos, marchar, marchar.

É melhor mesmo ser só o treinador a falar. Rúben Amorim. Que habilmente brinca com a situação da viagem a Inglaterra não com o pretexto de a apagar do mapa, mas antes com o intuito de se tornar mais um do grupo, que também tem o direito a errar e até de se rir com as próprias argoladas. Sinal de máxima inteligência emocional. Afinal de contas quem nunca? Ou aproveita a conferência de imprensa para lançar a única âncora que pode prender Gyokeres ao Sporting e a Portugal: a emocional. Sim, porque por muitas renovações e aumentos que se possam fazer, tudo serão amendoins para grandes clubes habituados a contratos milionários e que nunca verão na potencial renovação do sueco um entrave. Amorim, nas entrelinhas da comunicação e dirigindo-se subtilmente a Gyokeres, faz o que pode e o que não pode: ele gosta muito de estar cá. Até já tem uma namorada portuguesa. Olha, e tem uma vida tão espetacular que não há nenhum saco de notas que a possa comprar. Com jeitinho ainda continua por cá, onde é amado e respeitado por todos. E continua a ser o formidável de serviço, em vez de partir e ser mais um no vasto serviço de formidáveis.

Um dos segredos da “revolução Amorim” assentou na sua capacidade de comunicação que, acima de tudo, silenciou a lavandaria de Alvalade. Onde todos opinavam para um lado e para o outro, sem harmonia visível e gerando-se a balbúrdia em termos do verdadeiro significado e orientação da mensagem. Por isso, a melhor opção é mesmo deixar “o homem” continuar a falar. Só ele. À boa moda de Sun Tzu e da sua “Arte da Guerra”: se você conhece o adversário e a si mesmo, não precisas de temer o resultado de cem batalhas. Ou então uma frase ainda mais pertinente. Para colar no escritório de Frederico Varandas. Em maiúsculas: “um soberano jamais deverá colocar em ação um exército motivado pela ira. E um líder jamais deve iniciar uma guerra motivado pela ira”. Diz Sun Tzu que, se assim for, pode dar asneira. Se calhar tem razão.

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