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FC Porto: O Jonas que falta aos Dragões

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: O Jonas que falta aos Dragões
Liga Portugal

Se é estoico, romântico e valoroso uma equipa protagonizar uma reviravolta nos últimos minutos de jogo, é também fria e realista a constatação de que tal não acontece sempre. Brincar com o fogo, regra geral, não dá espetáculo. Dá asneira. Ou seja, para além de uma maior regularidade, o FC Porto tem de perceber (como naturalmente percebe) que vitórias conquistadas no sprint final tendem mais para o perigo do que para a delícia.

E, por falar em delícia, a ambivalência em que o dragão vive é, ao mesmo tempo, suculenta e nociva. É suculenta porque a equipa é jovem e sólida, com asas para voar caso se mantenham as premissas de jogo estabelecidas sobretudo do meio-campo para a frente. No entanto, existe o nocivo reverso da medalha; por que motivo o FC Porto tem tantas dificuldades em se impor em sua casa, e em particular quando as equipas recuam muito o seu bloco e saem sorrateiras para o ataque rápido?

A resposta não é óbvia, mas toca na plena necessidade do retoque. De um jogador dotado de grande definição no último terço e que, acima de tudo, saiba desequilibrar no espaço entrelinhas. Mais vale um toque no tempo certo do que uma data de fintas mirabolantes a voar. E tal é, sobretudo, tão válido quanto imperioso. Pensar rápido e agir à velocidade da luz. Aquele segundo recheado de sementes que consegue desembrulhar as defesas contrárias e transformar um jogo complicado numa micro- novela fácil. Situação que é determinante sobretudo quando a equipa é jovem e ainda tem na ansiedade um handicap de corrosão significativo.

Sim, já era visível, mas a partida diante do Boavista veio dissipar todas as dúvidas: a saída de Taremi deve ser acautelada, sob pena de o FC Porto ter uma equipa muito gira, que até dá uns bons banhos de bola aos tubarões desta vida, mas que carece da tal peça de desbloqueio que é necessária. A um ou dois toques. E o rival Benfica tem o melhor dos exemplos: muitas das vitórias da última década foram obtidas à custa do talento de Jonas, e da sua habilidade quer para desmembrar os ditos blocos baixos quer para finalizar de forma pronta e expedita. É claro que contratar um jogador deste calibre – que ainda por cima pode, pela sua natureza, atuar como segundo avançado – é sempre um investimento significativo mas a verdade é só uma: não ter um elemento com este perfil coloca em causa toda a estrutura de uma equipa que se pretende dominadora e flexível, mas, ao mesmo tempo, também prática e assertiva. Um, dois e golo. Eis a lata aberta e sem arranhões.

Se Pepê é, neste momento, provavelmente o jogador mais fulcral do plantel no que à tónica da versatilidade e criatividade diz respeito, as suas características expandem-se no alcance mas encurtam-se quando lhe é pedido o tal papel de desbloqueador de serviço, É claro que tudo é contra argumentável mediante o opositor e as crateras que definem no espaço defensivo – segundo golo do FC Porto diante do Sporting. Ou então golo que apontou ao Benfica. E mesmo ao Barcelona. Mas, claro está, sempre com um eixo dominante: equipas mais poderosas também arriscam mais e, por conseguinte, o espaço concedido na retaguarda é também mais amplo. E o problema do Dragão está na falta de equilíbrio entre as situações que cria no último terço – que são muitas – e a falta de aproveitamento que daí advém. O que não é saudável. E deturpa o plano.

Mas há o positivo da questão: a estrutura. As armas são várias: envolvimento dos laterais no processo ofensivo (Martim Fernandes excelente surpresa); atração para o flanco esquerdo e derivação brusca para o lado direito com o intuito de se aproveitar a capacidade de desequilíbrio de Francisco Conceição; derivação de Galeno para o meio e aparecimento na área quase como se fosse o avançado centro – segundo golo frente ao Benfica; Nico como médio-interior esquerdo a aparecer nas zonas de finalização; ou Varela com ordem para explorar zonas de tiro; isto para não falar do recuo estratégico de Evanilson para auxilio do miolo e rápida penetração de Pepê pelo espaço deixado livre. Falta a peça ao resto da máquina, sendo que grave seria se ocorresse o contrário. Solução mais fácil do que aquilo que parece.

Até porque a debilidade-mor está identificada: mais e melhores recursos na zona defensiva, capazes de oferecer uma maior solidez individual e, ao mesmo tempo, disponibilizar ao técnico um maior ramalhete de soluções em termos de composição da defesa. Três ou quatro defesas. Como chegou a ser testado – Estrela da Amadora e Estoril por exemplo – mas nunca chegou a ser efetivado por regularidade na sequência da instabilidade vivida naquele setor.

E, de facto, são mesmo duas finais. Se o 3º lugar permite que se escape à sempre incómoda e perigosa qualificação para a fase de grupos para a Liga Europa, a conquista da Taça de Portugal representa o trampolim de confiança para o que se segue. Com Sérgio ou sem Sérgio. Mas sempre com uma equipa jovem e que não foi adulterada. Mais do que o Villas-Boas presidente, o FC Porto necessita do Villas-Boas treinador: que percebe, melhor do que ninguém, que quem hipoteticamente vier não poderá sair muito da linha de pensamento de Sérgio Conceição. Qualquer reconstrução custa mais do que o retoque do edifício. Sem dúvida.

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