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Benfica: Com céu nublado até se pode ir à práia, mas...

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Com céu nublado até se pode ir à práia, mas...
Benfica

É um quase que. Um até pode ser que dê. Porque, de forma franca, Roger Schmidt também não é nenhuma calamidade e o caminho para a destruição está e estará sempre evitado. E há a leitura fria da situação: 2º lugar e portas escancaradas para uma Liga dos Campeões que, independentemente dos pontos, trará consigo sempre um contentor de refrescantes milhões para as contas do clube. Tácito.

Schmidt diz que o Benfica não é um clube fácil, mas, sem ser uma argolada de discurso, acresce que a questão não é essa. O Benfica é um clube grande que tem uma exigência superlativa pelo que o assim-assim e o razoável não chegam. É preciso mais. Aquilo que não foi alcançado nesta temporada e que deixa dúvidas em relação ao futuro. E essa é a mãe das questões.

Porque um clube como o Benfica pode ter dúvidas em relação a tudo, mas nunca pode ter dúvidas em relação à valia do treinador: sobre isso, independentemente dos resultados, não pode haver qualquer tipo de interrogação. Simplificando, o atual rio vermelho pode tomar dois caminhos: ou Rui Costa sabe (tem a certeza) que Schmidt vai dar a volta por cima e, afinal de contas, a presente temporada representou apenas uma vasta nuvem de infortúnios; ou então não tem certeza de nada e espera que uma equipa bem apetrechada salve o coiro do imutável “treinador do projeto” e, por consequência, limpe a imagem do Presidente e da direção. Com dois possíveis brindes a montante: um Sporting mais sobrecarregado em termos de agenda europeia e presumivelmente menos competitivo em termos internos; e um FC Porto que poderá ter um treinador diferente e que, por muito que possa semelhante em relação a Sérgio Conceição, o processo de adaptação leva sempre tempo e esfumaça pontos, sobretudo no início da caminhada.

Mas aí reside o busílis da questão: porque ninguém tem dúvidas que Amorim e Sérgio Conceição são de top. Ninguém tem dúvidas em relação à sua habilidade para, eventualmente, tirar a equipa da fossa e colocá-las novamente em modo voo. Sobre Schmidt ninguém sabe. Ou, melhor dizendo, ninguém arrisca muitos euros sob pena de os ver a voar. Porque ter a certeza que não se tem o pior treinador do mundo é manifestamente insuficiente para o Benfica. E nivelar por baixo seis milhões de pessoas é um risco tremendo. E destrutivo.

E o raciocínio até pode ser mais amplo: ninguém pode censurar uma empresa por, na minúcia dos seus recursos humanos, contratar alguém que julga perfeito para o cargo e, passado uns meses, verificar-se que o perfil é inadequado. Acontece. Mas aí a mudança justifica-se e a questão nem é de incompetência nem de falta de fiabilidade dos líderes ou dos projetos. Trata-se, isso sim, de se retificar a tempo e de se aferir a real dimensão dos problemas: mais vale um problema resolvido do tamanho de uma sardinha do que um frete permanente em forma de baleia.

E a partir daqui corre-se o risco não da perspetiva em si mas antes da sua consequência: se a nova temporada contiver a narrativa da presente, que agora finda, então o Benfica é um clube muito giro que se contenta com uma passagem pífia pela Liga dos Campeões e que vê quer no 2º lugar da liga quer nos quartos-de-final da Liga Europa um desiderato satisfatório. E, por aqui, o problema nem reside nos 5-0 do Dragão. Isso acontece a todos e faz parte. Nenhum grande está imune a isso. O problema estará na constatação (mesmo que falaciosa) de que a direção do Benfica aceitou a dúvida e se contentou com um cenário de razoabilidade dentro de um tal espectro que o Benfica, na sua essência, nunca pode nem poderá permitir.

Mais do que a clausula de rescisão estar fixada nos 20 milhões de euros, é claro que também podemos mergulhar no oceano do pessimismo. E se um hipotético novo técnico ainda faz pior do que Roger Schmidt? Sim, é possível. Também faz parte. Mas não há nada que não tenha a solução: o Benfica é sempre um clube apetecível e não faltarão boas oportunidades de mercado, sendo que ninguém acerta sempre, mas também ninguém é inapto. E Rui Costa, um dos melhores médios portugueses de todos os tempos, percebe o contexto melhor do que ninguém.

Céu nublado é diferente de se dizer que o céu está completamente limpo. Com Schmidt, joga-se num tabuleiro em que toda a estrutura pode viver com a nuvenzinha negra sempre em cima da cabeça. E há verdades da vida: cabeças limpas fazem que o universo quase que conspire para que as coisas corram bem. Corram de feição. A dúvida é inimiga da perfeição. Sobretudo quando estamos a falar de um clube com a dimensão do Benfica. Que nunca pode ser colocada em causa.

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